Como Filipe Ret se tornou referência do rap nacional (2024)

Um apartamento localizado no bairro das Laranjeiras, um delicioso aroma de carne moída invade o ambiente. Um trabalho de amor de Cris, assistente de Filipe Ret, que cuida de cada detalhe da alimentação do rapper (e cuidou deste que vos escreve, visto que ela fez questão de preparar um café saborosíssimo). Cris já havia deixado bem claro que, nos próximos dias, chegaria mais tarde no trabalho para assistir a um show de Léo Santana. E que não abriria mão de um ou outro desfile de Carnaval.

Para Ret, tudo bem. Na casa do rapper, a música é uma das prioridades. É perceptível na biografia de 2Pac Shakur e no livro sobre Chico Buarque alocados nas estantes, nos discos de vinil –pelo menos três deles são do versejador mineiro Djonga– e na animação de Ret com os dotes musicais do filho Theo, de seis anos. O menino tem demonstrado traquejo nos versos e nas batidas, e o rapper pensa em colocá-lo em aulas de piano.

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Filipe Ret está lançando “FRXV”, disco e DVD ao vivo no qual repassa seus 15 anos de carreira. O trabalho tem participações especiais que vão dos rappers Delacruz e Djonga a Anitta. As letras alternam entre mensagens positivas e libidinagem

Filipe Cavaleiro de Macedo da Silva Faria é um dos grandes nomes do rap brasileiro. Gestou seu talento nas batalhas de rap do Rio e debutou em disco com “Vivaz”, de 2012. Desde então, tem acumulado sucessos e parcerias com o melhor do rap, do funk e do pop. Em entrevista para a Billboard Brasil, ele repassa sua trajetória nesse universo, desvenda o motivo de algumas de suas tatuagens e fala da superação do vício em drogas, como álcool e cocaína.

“FRXV”, no qual comemora 15 anos de carreira, foi bancado com recursos próprios. Por quê?

Basicamente, porque não consegui patrocínio. Acredite, ainda existe muito preconceito contra o rap. Estamos tentando achar um patrocinador para a turnê, mas estou acostumado a investir nos meus projetos. A gravadora até colocou uma merrequinha, porque virou CD, mas esse dinheiro não banca os meus custos.

Como você se envolveu com a música?

Comecei no rap por causa dos Racionais, tá ligado? Aquela coletânea que tem o menino atrás das grades e que traz “Homem na Estrada”, “Diário de um Detento”… E Gabriel O Pensador, um disco que acho que foi trazido pelo meu pai. Ele e minha mãe são fãs de música. Meu pai curte Titãs, Cazuza e Djavan, e ela tem umas paradas mais Chico Buarque, Caetano Veloso e Rita Lee. E, caraca, “Usuário”, do Planet Hemp!!!!

E o rap entra na sua vida em…

2002, na “Batalha do Real”. É uma disputa de rap que existe há mais de duas décadas e teve gente como Xamã, Flora Matos e Criolo. Quando comecei a participar, o rap não era tão forte no Rio. Havia uma cena mais forte de funk. Uma das principais batalhas que fiz foi com o MC Marechal, uma lenda do cenário do Rio. Perdi, claro. Mas minha mãe sempre exigiu que eu tivesse um diploma, tá ligado? Me formei em comunicação.

Quando você percebeu que dava para viver de rap?

Quando eu consegui fechar um cachê de R$ 5.000 para uma apresentação. Vinha de R$ 500, R$ 2.500 por performance. Quando fechei por R$ 5.000, entendi que eu estava fazendo sucesso. Uma vez, quando cheguei cantando “Libertários Não Morrem” e o público saiu cantando comigo… Foi a glória. Por muito tempo, fui um dos shows mais pedidos nas comunidades cariocas ao lado dos Racionais MC’s.

Aliás, tem uma história curiosa. Certa vez, fui convidado para uma festa ao lado dos Racionais. Meu cachê era de R$ 30 mil. Mas combinei com o contratante de fazer por R$ 15 mil, contanto que o pôster do meu show tivesse o mesmo tamanho do deles. Não sei se foi o melhor momento para isso, mano, mas que bela jogada de marketing!

Mano Brown é uma influência?

Sou fã do Brown, da personalidade dele. O cara veio me visitar no hotel em que eu estava hospedado. E ele é meu professor, mano, não tem nada para aprender comigo. Mas veio para trocar uma ideia. Eu estava em São Paulo, quis me encontrar com ele. Mas o Mano falou: “Vou até aí”.

Chegou com o carrinho deles, fumamos maconha juntos e trocamos uma ideia. A gente falou de tudo: de vida, de casamento… E ele é um cara que não abre muito a guarda, não…

Você tem tatuagens da atriz Marilyn Monroe, da escritora Clarice Lispector e do faraó Tutancâmon. Como três personagens tão distintos conversam?

Elas foram feitas em épocas diferentes, tá ligado? Sou pirado pela história do Tutancâmon. Aí fiz um show para um estúdio de tatuagem e acabei fazendo essa. A Clarice simboliza muito a minha necessidade, assim, simbolicamente falando, de ter coisas mais aprofundadas, tá ligado? Se bem que li só um dos contos dela, acho que foi “A Hora da Estrela”.

Você teve problemas sérios com cocaína e álcool…

Eu me libertei geral. No máximo, fumo um cigarrinho de maconha. Precisava de álcool para enfrentar o público –tomava vodka com Red Bull. Todo show tinha de ter pelo menos um copão para me animar. Hoje até as pessoas da minha equipe deram um tempo no álcool.

Cara, lembro até hoje do show que eu não bebi. Fiquei tão feliz, falei com a minha mãe… Eu tinha uma nuvem espessa na minha cabeça que ficava me forçando a cheirar. Porque a bebida chama drogas mais pesadas, né?

E quando se deu o “chega definitivo”?

Um dia acordei cercado de drogas, estirado no sofá e com duas meninas que nunca tinha visto deitadas na minha cama. Pensei: “Porra, acho que já deu, né?”. Porque esse hábito cobra um preço na tua saúde. Assim, você costuma se rodear com negatividade.

O nascimento do meu filho [do relacionamento com a influenciadora digital Anna Estrela] foi importante para decidir parar.

Hoje ainda bate uma vontade de se drogar?

Eu tô de boa, tá ligado? Se vejo alguém usando, digo que vou embora porque durmo cedo para treinar. Prefiro investir dinheiro em mim, na minha carreira.

Você tem uma gravadora, a NADAMAL Records. Tem alguma promessa?

MC Maneirinho e Caio Luccas são minhas apostas. Ah, e a Manu 2D, uma rapper que a gente pegou! Tipo assim, hoje no Brasil, depois da Flora Matos, é ela, tá ligado?

E como é o trabalho com esses artistas?

A gente faz a distribuição. A gente finalizou o disco do Caio, distribuiu e amarrou o bagulho. E aí eu digo: “Você é foda, agora vamos fazer um Circo Voador. Vamos criar carreira, tá ligado?”. Se Deus quiser, ele vai fazer show no Circo, vai pegar essa visão. Os fãs dele vão se sentir especiais e acompanhar a trajetória.

É uma coisa que não tem, por exemplo, no funk, né? O desenvolvimento de carreira. O funk é imediatista.

O Kevin o Chris busca uma carreira, sim. Anitta, nem se fala, vai além da importância musical. A Yasmin Brunet falou no “BBB 24” que foi importante a Anitta ter aparecido no clipe de “Vai Malandra” com celulite na bunda. Para ela, foi libertador. Tem toda uma atitude.

De volta à diferença com o rap… A gente tem uma preocupação maior em contar uma história. Gosto de lançar disco por causa disso, da possibilidade de falar de vários assuntos. Mas amo funk, uma das maiores honras foi ter ouvido de Mr. Catra que “Invicto”, um dos meus hits, era a música da vida dele. Rap e funk, para mim, são dois lados da mesma moeda.

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